19 de setembro de 2015

ESTUDO MOSTRA QUE HÁBITOS ALIMENTARES SAUDÁVEIS PREVINEM DEPRESSÃO.


Estudo com mais de 15 mil pessoas indica que é possível se proteger do transtorno psiquiátrico aumentando a ingestão de vegetais e oleaginosas e reduzindo a de carnes vermelhas. Redução do risco de ter a doença chega a 45%

Isabela de Oliveira - Correio Braziliense
Publicação: 18/09/2015 11:28 Atualização:
Instintivamente, bichos bem simples e humanos sabem que a sobrevivência depende da alimentação. No caso dos últimos, o sustento virou sabedoria a partir do momento em que pensadores das sociedades antigas passaram a observar a influência do que era ingerido na forma como as pessoas pensavam, sentiam e agiam. Com o avanço da ciência, a relação ficou mais clara do que nunca. No fim dos anos de 1800, por exemplo, médicos naturalistas como John Harvey Kellog, inventor do cereal matinal de flocos de milho, já defendiam a alimentação natural e alertavam que o consumo de carne favorecia o aparecimento de dores de cabeça e transtornos mentais. Uma pesquisa espanhola adiciona evidências disso: publicada ontem na revista BMC Medicine, ela mostra que uma dieta baseada em frutas, verduras, legumes e nozes, e pobre em carnes vermelhas e processadas, mantém longe a depressão.

Almudena Sánchez Villegas, principal autora do estudo com 15.093 pessoas, diz que as propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes das frutas, verduras, legumes e nozes são as responsáveis pelos efeitos protetivos.“Elas melhoram a capacidade do metabolismo da glicose e da função endotelial. O endotélio é responsável pela síntese de neurotrofinas, um tipo de proteína relacionado com a neurotransmissão e o bom funcionamento do sistema nervoso central”, explica a professora do Departamento de Ciências Clínicas da Universidade de Las Palmas de Gran Canaria, na Espanha.

Esses alimentos também melhoram a fluidez e a permeabilidade das membranas celulares, onde ficam receptores de neurotransmissores, como a serotonina. Além disso, alguns micronutrientes — vitaminas do complexo B, folato, minerais e oligoelementos, por exemplo, o zinco e o magnésio — têm papel essencial em processos neurofisiológicos. “Por outro lado, as carnes processadas e o fast food são fontes de ácidos graxos trans com propriedades inflamatórias que têm sido associadas ao risco de depressão”, completa a pesquisadora espanhola.

Sem radicalizar
Os participantes do estudo faziam parte do projeto SUN (Seguimiento Universidad de Navarra), que acompanhou durante 10 anos graduados e profissionais registrados em províncias espanholas para identificar padrões alimentares e de estilo de vida que favorecessem o aparecimento de diabetes, obesidade e depressão. Nenhum deles apresentava o transtorno mental no início do estudo, em dezembro de 1999. Oito anos depois, 1.550 pessoas haviam sido diagnosticadas com a doença.

Basicamente, essas pessoas aderiam, em diferentes níveis, a três padrões de dieta comparados por Almudena Villegas: mediterrânea, pró-vegetariana e o índice de alimentação saudável 2010 (Ahei 2010) (veja arte). Muitos dos participantes com padrão alimentar mais saudável tinham diabetes, doença cardiovascular ou dislipidemia (nível elevado de gordura no sangue), o que pode significar que eles só adotaram a dieta após o diagnóstico das doenças. “Porém, não podemos afirmar isso com certeza”, pondera a pesquisadora.

A maior redução nos casos de depressão foi notada entre participantes com boa adesão ao Ahei 2010. Grande parte do efeito protetivo dessa dieta, observa Villegas, deve-se à semelhança com a mediterrânea. “Na verdade, nós tentamos explicar esse efeito após eliminar a possível semelhança. Quando isso ocorreu, a proteção diminuiu. Assim, nutrientes comuns e itens alimentares, como ácidos graxos ômega-3, legumes, frutas, legumes, nozes e consumo moderado de álcool presentes em ambos os padrões podem ser responsáveis pela redução do risco”, diz a principal autora.

Como o Ahei 010 é menos restritivo, a pesquisadora concluiu que, para se beneficiar, não é preciso abrir mão completamente de guloseimas e carnes. “Não vimos nenhum benefício extra em participantes rigorosos demais com uma alimentação saudável”, diz Villegas. A redução do risco para a depressão foi de até 30% em pessoas que seguiam moderadamente a dieta mediterrânea e de até 45% para adeptos ponderados do Ahei 2010. O padrão é compatível com a hipótese de que deficiências na ingestão de alguns nutrientes podem representar um fator de risco para o transtorno psiquiátrico. Uma vez que a quantidade recomendada é atingida, tanto as pessoas de hábitos alimentares mais rigorosos, quanto as moderadas terão os mesmos efeitos protetivos.

Mais influências
Outra possível explicação está relacionada com as características psicológicas dos participantes demasiadamente preocupados com a alimentação. “É possível que alguns indivíduos fossem obsessivos ou neuróticos quanto à dieta e/ou à atividade física. Devido a essas características, é possível que fossem mais propensos a desenvolver um transtorno depressivo. Mas isso é especulação”, completa a autora. Independentemente da causa, a nutricionista Jamila Vital Barbosa reforça que, quanto mais variada a dieta, melhor é a saúde mental.
 
http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2015/09/18

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